segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Doença dos Legionários





 As bactérias do género legionella encontram-se em ambientes aquáticos naturais e também em sistemas artificiais. A exposição a esta bactéria pode provocar uma infecção respiratória, actualmente conhecida por Doença dos Legionários assim chamada porque a seguir à Convenção da Legião Americana em 1976, no hotel Bellevue Stratford, Filadelfia, 34 participantes morreram e 221 adoeceram com pneumonia

A Doença dos Legionários é uma infecção respiratória aguda, de instalação súbita. É transmitida por inalação de microaerossóis (gotículas inferiores a 5µm) de água contaminada, que se irão depositar nos alvéolos pulmonares.

A doença provocada pela legionella atinge em especial adultos, entre os 40 e 70 anos de idade, com maior incidência nos homens. De um modo geral, pessoas imunodeprimidas têm maior probabilidade de contrair a doença, como é o caso de fumadores, pessoas com problemas respiratórios crónicos, doentes renais.

A ingestão da bactéria legionella não provoca infecção, nem se verifica o contágio de pessoa para pessoa.

Sintomas

Os sintomas incluem febre alta, arrepios, dores de cabeça e dores musculares; pode aparecer tosse seca e, por vezes, dificuldade respiratória, podendo nalguns casos desenvolver-se diarreia e/ou vómitos. O doente pode ainda ficar num estado de confusão ou mesmo entrar em situações de delírio, etc.



Factores que Determinam o Desenvolvimento da legionella

    - Temperatura: entre os 20ºC e os 45ºC (temp. óptima : 35ºC a 45ºC);
     - pH: entre 5 e 8;
     - Humidade Relativa: superior a 60%;
     - Zonas de reduzida circulação de água: reservatórios de água, torres de arrefecimento, tubagens de redes prediais, pontos de extremidade das redes pouco utilizadas;
     - Presença de outros microorganismos em águas não tratadas ou com tratamento deficiente: algas, amibas, protozoários;
     - Processos de corrosão ou incrustação;
     - Utilização de materiais porosos e de derivados de silicone nas redes prediais: potenciam o crescimento bacteriano.

Sistemas associados ao desenvolvimento da legionella

Os principais sistemas potenciadores de desenvolvimento bactéria são os que se encontram referenciados na tabela abaixo:

Sistemas de arrefecimento
Redes prediais de água quente e fria
Sistemas de água climatizada de uso recreativo ou terapêutico
  •       Torres de arrefecimento;

  •     Torneiras;

  •     Piscinas climatizadas e jacuzzis;

  •      Condensadores evaporativos;

  •     Chuveiros.

  •      Instalações termais;

  •      Humidificadores

  •     Equipamentos utilizados na terapia respiratória (nebulizadores e humidificadores de sistema de ventilação assistida).

  •      Sistemas de ar   condicionado.

Tabela 1 – Principais sistemas e equipamentos associados ao desenvolvimento da bactéria legionella.

 Prevenção

Devem ser adoptadas medidas de prevenção e de controlo físico-químico e microbiológico, de modo a minimizar a proliferação de legionella e o risco associado de Doença dos Legionários. Deste modo, recomenda-se o seguinte:
  •     Garantir uma boa circulação hidráulica – evitar zonas de águas paradas ou de armazenamento prolongado nos diferentes sistemas;
  •     Accionar mecanismos de combate aos fenómenos de corrosão e incrustação através da correcta operação e manutenção, adaptados à qualidade da água e às características das instalações;
  •     Realizar o controlo e manutenção da qualidade da água do processo – cloro residual do biocida, pH, dureza, alcalinidade, presença de bactérias heterotróficas, germes a 22ºC e a 37ºC e legionella;


A doença tem ocorrido sob a forma de casos esporádicos ou de surtos epidémicos, em particular no Verão e Outono, com maior expressão em zonas turísticas. As acções preventivas aqui referidas devem ser complementadas com as orientações da Direcção-Geral de Saúde que dispõe de programas que visam a prevenção de surtos de Doença dos Legionários.

Programa de Prevenção
         Na região Algarvia, onde o Turismo é a actividade com maior impacto, a Autoridade de Saúde, elaborou e implementou programas de prevenção da Doença dos Legionários direccionados aos Empreendimentos Turísticos e aos Estabelecimentos Hospitalares.                                                           
         Os casos de Doença dos Legionários estão associados à presença da bactéria legionella em diversos pontos, como se pode constatar pela tabela 1.
         Devido ao crescente número de casos da doença identificados, pela gravidade dos mesmos e pelo impacto de surtos associados a Estabelecimentos Hospitalares e a Empreendimentos Turísticos, a Direcção Geral de Saúde emitiu orientações técnicas relativas à vigilância epidemiológica uniformizando procedimentos na investigação e notificação laboratorial e na investigação epidemiológica que deve suceder à notificação de um caso de doença.

       Investigação epidemiológica: Obriga a um estudo completo de possíveis fontes de infecção; inclui a inspecção sanitária dos edifícios, instalações e equipamentos e a selecção de pontos de amostragem para colheita de amostras.
Inspecção Sanitária: Sempre que a inspecção sanitária detectar a existência de anomalias, as Autoridades de Saúde devem tomar as medidas que considerarem convenientes e assegurar que são tomadas medidas correctivas, de modo a minimizar o risco de contaminação e prevenindo o aparecimento de novos casos.

Vigilância Sanitária – Actividades

Devido à dificuldade das Autoridades de Saúde intervirem no terreno e de modo a facilitar a sua intervenção, o Programa de Prevenção da Doença dos Legionários em Empreendimentos Turísticos, inclui em anexo um conjunto de medidas de monitorização e controlo do programa a executar pelos Empreendimentos Turísticos.                                                                                

O programa dispõe, também, de uma Grelha de Avaliação de Risco, que permitirá:
·                   Sistematizar e uniformizar a avaliação das condições das instalações, equipamentos e procedimentos que favorecem a ocorrência de casos da Doença dos Legionários;
·                   Facilitar a avaliação periódica do risco em função de vários factores que aumentam a probabilidade de ocorrência de colonização da rede predial e outros equipamentos;
·                   Obter um valor final, correspondendo a maior pontuação sempre a um maior risco. Aos campos de preenchimento da grelha de avaliação, serão atribuídos pontos consoante o risco existente.

Fonte: Programa de prevenção – Doença dos Legionários em Empreendimentos Turísticos; Departamento de Saúde Pública e Planeamento – ARS Algarve, I.P.

Material de Colheita e Procedimento

Material de Protecção Pessoal (a utilizar caso haja suspeita ou tenha havido contaminação por Legionella)

·                   Bata descartável;
·                   Luvas descartáveis (somente para colheita em depósitos de pouca profundidade);

·                   Máscara "Bico de Pato".


Figura 1: Exemplo de máscara "bico de pato" a utilizar aquando de colheitas de amostras de água para pesquisa de Legionella.

Procedimento
1.    Desinfectar as mãos;
2.   Não retirar acessórios da torneira, caso existam;
3.   Não deixar correr a água;
4.   Não desinfectar (interior e exterior) o bocal da torneira com algodão embebido em álcool; 
5.   Não flamejar a torneira;
6.   Destapar o frasco (1 litro) na proximidade da torneira, mantendo a tampa virada para baixo;
7.   Encher o frasco até meio com o fluxo inicial, mantendo-o inclinado e sem contacto com a torneira;
8.   Realizar a colheita de biofilme com zaragatoa.
9.   Fechar o frasco;
10. Identificar o frasco;
11. Colocar o frasco em mala de transporte ou saco, opacos. O transporte é feito à temperatura ambiente e ao abrigo da luz solar.

Importante: Quando o ponto de colheita é um chuveiro, deve-se introduzir a cabeça deste dentro de um saco de plástico esterilizado, cortar um canto do fundo do saco e posteriormente inseri-lo no bocal do frasco (conforme a figura 1). De seguida encher o frasco de acordo com o procedimento indicado.